domingo, agosto 13, 2006
1.4. Fim de Férias: Retorno Revigorado.
Os meus dias foram passados assim... Longas caminhadas para a Praia, banhos de Sol, e Mergulhos no imenso Mar azul-esverdeado... Sempre acompanhada pelo "Road Trip Trio" claro, os inseparáveis iPod, o Moleskine púrpura, e a Canon (ainda das "amadorazitas"). Também me sabia bem pegar no livro de cabeceira - "A Minha Vida" - de M. Gandhi, que um grande amigo me emprestou. Nem num Alfarrobista iria encontrar esta peça magnífica, que tem "sugado" algum do meu Tempo. Mas dou por muuuuuuito bem empregue...
À hora do banho, já de água-doce, e no meu quarto, fui acompanhando, incrédula, a situação no Líbano e os ataques demolidores de Israel.
É uma sensação estranha e embaraçosa, mas também tão estupidamente impotente... Enquanto me sinto no Paraíso, algures, em muitos outros lugares do Mundo, há gente a sofrer, a fugir, a matar, a defender. Tudo em nome de causas mil que nunca se compreendem e aceitam, porque comprometem sempre Vidas. Gente que morre sem nunca saber o que é o paraíso, na terra onde sofreram.
Gente que morre sem sentir a água fresca e salgada do Mar. Gente que morre sem nunca ter contemplado tranquilamente o pôr-do-Sol, num final de tarde quente de Verão ou num dia morno de Inverno. Gente que nunca sentiu Paz, apenas Terror. Gente que nunca conheceu, nem conhecerá, outro modo de Vida, outras formas de Amar, ou diferentes maneiras de Ser. Gente que Partiu sem nunca ter Chegado. Gente que Nasceu sem nunca ter Vivido. Gente que não Viveu... nem Sobreviveu.
E no meio deste turbilhão de pensamentos, entro na base de duche para o meu banho de água-doce. Talvez me alivie a Alma amarga e seca pelo olhar da Gente que não sabe o que é a Doçura... Abro a torneira de água quente, e misturo com água fria, até atingir a temperatura ideal. Coloco a mangueira do duche pendurada no suporte da parede, e deixo a água correr sobre mim... Fecho os olhos, e regresso ao turbilhão.
Há muitos anos que sinto vontade de partir. Deixar tudo para trás e procurar dar o meu contributo junto de outros voluntários de Ajuda Humanitária. Se estivesse sózinha neste Mundo, já teria voado. Só os meus Pais me levam a pensar duas e três vezes... Penso muitas vezes em como morreriam de desgosto, sós. Os Filhos-Únicos carregam um pouco essa "sombra" na consciência. Gosto muito deles, de facto, e seria incapaz de assinar uma sentença de morte, como acabaria por ser a minha partida.
A semana passou muito depressa... Hoje é Sábado, e será o meu último dia em Odeceixe. Amanhã de manhã, uma amiga - a Cláudia - virá à Vila para me levar a Aljezur. Vou passar o dia com ela, e aproveitar para ver a presença da RFM na praia de Monte Clérigo.
Prevejo um dia animado, e em excelente companhia. Mas já sinto saudades de tudo isto. Amanhã, partirei para Lisboa, na camioneta das 16:45. De bilhete de regresso na mão, coloco um ponto-final na minha semana de evasão... Tal como acontece todos os anos, levo este cantinho no coração. Já para não falar nas dezenas de fotografias que me irão acompanhar o ano todo, e que me dão fôlego e alento para as próximas "paragens".
Neste último dia em Odeceixe, deixei a Praia. Mas em vez de efectuar o habitual passeio a pé até à Residencial do Parque, apanhei o pequeno Comboio Turístico das sete da tarde. Escolhi a última carruagem e sentei-me no último banco virado para as traseiras do comboio. Partimos. Estava quase cheio, mas de tão cansados que todos deveriam estar depois de um dia de praia, o silêncio manteve-se durante a curta viagem.
Fiz o mesmo caminho de sempre. A diferença foi ver o caminho de todos os dias, ao contrário... Uma perspectiva nova, traduzida numa espécie de filme em "rewind". Dizem que quando se está perto da Morte, passa-nos a Vida inteira de trás para a frente, numa viagem alucinante pelos momentos mais marcantes... Talvez seja essa a sensação.
De certa forma, deixo aqui uma parte de mim. Mas também levo muito do que sou, uma face renovada e um coração mais leve e tranquilo, palpitando bons prognósticos para os momentos que se avizinham...
Fotografias... Olhares captados em momentos eternamente meus.
1.3. Tempo para estar Comigo...
1. Odeceixe, a Pequena Vila do Swd. Alentejano: Acordar e "Pequeno"-Almoçar...
1.2. Finalmente... Mar, Sol, e Areia macia.
1.3. Tempo para estar Comigo...
1.4. Fim de Férias: Retorno Revigorado.
Fotografias... Olhares captados em momentos eternamente meus.
1.2. Finalmente... Mar, Sol, e Areia macia.
Ao descer pela simpática Vila, vislumbra-se um areal extenso, travado por uma arriba fóssil gigantesca, dotada de uma forte personalidade, marcada por rochedos fortes, ângulos agudos e bem vincados, arestas estilizadas... marcas do Tempo que formam a paisagem e a tornam tão bela.
Fico a pensar como seria aquele local há milhares e milhares de anos atrás... quando não havia cabos, nem carros, nem cinzeiros de praia patrocinados pela Vodafone, e muito menos Bandeiras Azuis que demarcam um conjunto de praias integradas numa qualquer norma de qualidade. No entanto, posso confirmar: Odeceixe tem uma Bandeira Azul bem erguida junto à escadaria de madeira, que se vê quase de qualquer ponto da praia, e que passou a ser um símbolo integrante daquela bela paisagem.
Sempre gostei muito desta praia, porque não é uma mera praia. É muito bonita...
Tem zonas verdes na encosta, e além de Mar é banhada por uma Ria, situada do lado oposto ao Mar, e que se alimenta deste através de um braço comprido e profundo que bebe da água salgada e fresca.
Ao admirar a paisagem ao meu redor, tudo me parece tão cuidadosamente concebido, que se gera uma sensação de plenitude ao olhar um cenário perfeto, planeado e esculpido ao pormenor pelo Universo.
Uma união perfeita entre o Masculino e o Feminino, uma dimensão de puro equilíbro de energia Ying e Yang, uma ligação única entre o Oceano poderoso e gigantesco e a pequena Ria de Odeceixe, que num abraço se fundem num único caudal de água doce e salgada, com correntes mas sem ondas, com peixes mas sem algas ou conchas, e iluminada por tons contrastantes de azuis esmeralda e verdes-turquesa, abençoados pelo Sol e pela Lua.
Durante estes momentos de admiração pura, inspirei o cheiro único a maresia da Costa Atlântica. É uma benção dos Deuses usufruir destes pequenos prazes, que para muitos são um luxo.
Instintivamente, deixei de lado os sapatos marroquinos e deslizei ao longo da praia, sentindo a leve massagem da areia morna e macia nos pés... tão branca e macia, deixei-me ir, sentindo os seus mimos de boas-vindas.
Fui caminhando lentamente... senti que começava a abrandar o ritmo citadino. É impossível não o fazer, naquele local. Fui andando, olhando o Mar. Já havia muita gente na praia.
Famílias jovens com crianças pequenas que brincavam à beira-mar, surfistas alourados pelo Sol e alguns também muito morenos, cercados por uma parafernália de acessórios necessários à sua estadia no local: pranchas de todos os tamanhos e feitios, tendas, sacos-cama, geleiras, mochilas de metro e meio, fatos de borracha com letras fluorescentes... enfim um amontoado interminável de equipamento que me fazia sentir uma “turista minimalista", ao olhar para a minha pacata mochila “medium size”, padronizada com flores azul-marinho em fundo kaki, e uma pequena bolsa de cintura tom Safari... hummmm.... kaki sujo?... é por aí. :D
Escolhi um lugar perto da arriba que envolve a praia, e que a torna numa espécie de “porto de abrigo”.
Como não levo Chapéu-de-Sol, é importante assegurar um lugar onde se vá aproximando alguma sombra, ainda durante a manhã, porque o Sol, esse... já escalda! De tarde, a estratégia a adoptar é a mesma.
Vou deslocando a toalha e as “tralhas minimalistas”, de centímetro em centímetro, à medida que o Sol se passeia no céu azul, numa espécie de jogo do “Gato e do Rato”.
Estendi a toalha, deitei-me ao Sol e fechei os olhos... Relaxei.
A energia que me invade é enorne, ao mesmo tempo que sinto uma tranquilidade que me lembra os tempos de criança. Aos poucos, todas as dores nos músculos que o passeio matinal de bicicleta me causara, foram desaparecendo... Estava muito calor. Rumei em direcção ao Mar para me refrescar.
Quando a espuma que resta do movimento ágil das ondas, e que desliza à beira-mar, me acolhe os pés, senti um arrepio na espinha. Um misto de prazer e choque térmico, deixando todo o corpo quente arrepiado pela frescura da água salgada.
A partir daqui, foi fácil... Deixei-me envolver pelo rebentar das ondas que me salpicavam, refrescando o corpo e tornando a Alma cada vez mais leve. Mergulhei fundo, na vertigem da onda antes de se desfazer num estouro forte de espuma e água. Toquei na areia macia que repousa debaixo de água e me mantém o pé...
Após mais alguns mergulhos salgados, regressei à minha toalha. Estendi-me sob o Sol...
Podem existir muitas outras coisas bem melhores, mas este é um dos meus grandes prazeres – sentir o calor intenso do Sol, depois de um banho nas águas agitadas da Costa Vicentina.
Senti-me revigorada, com uma força e energia anímica, capaz de encarar as piores contrariedades da vida.
Como diriam os sábios Hindus – Satyagraha – Força da Alma...
Já perto das duas da tarde, comecei a sentir forme. Estava na hora de fazer uma pausa... da pausa! ;)
Lembrei-me da esplanada que fica mesmo no final da Vila dos pescadores, junto à praia.
Uma pequeníssima esplanada construida com traves de madeira e telhado de colmo, com uma vista inteiramente sobre toda a praia. Vista de Mar e de Ria.
A decoração simples, tipicamente mediterrânea, enche-a de pequenos vasos de barro tosco quase tapados com flores de cacto côr-de-rosa forte, muito miudinhas, dando um ar extremamente acolhedor ao local.
Encontrei uma mesa, o que nem sempre é fácil. Pedi uma salada de queijo Fetta e um sumo natural de melancia, com gelo. Hummm... Adoro Melancia...
O sumo chegou primeiro, e foi suficiente para me acalmar a sede. Fresco e naturalmente doce, aquele nector de melancia estava uma delicia. Sim, eu tenho mesmo uma paranóia por melancia. Talvez numa outra encarnação tenha sido uma melancia, quem sabe... :D
Pouco depois, chegou a salada. Calmamente, e já um pouco reconfortada com o sumo, degustei cada garfada de rúcula, alface, queijo Fetta, azeitonas, e uns oregãos frescos que davam um sabor especial, para além do saboroso azeite que envolvia os ingredientes... Fetta Cheese Salad and all that Great Landscape around me... How lucky I am!
Uma boa parte da tarde foi passada na esplanada. Perto das quatro e meia, regressei à praia. Lá fui para outro lugar com alguma sobra, para garantir que a garrafa de litro e meioa de água gelada acabadinha de comprar, não ficaria morna em pouco tempo.
E ali fiquei, entre um banho de Mar, o calor do Sol, o puro descanso, e total serenidade...
1. Odeceixe, a Pequena Vila do Swd. Alentejano: Acordar e "Pequeno"-Almoçar...
1.1. A Caminho da Praia
1.2. Finalmente... Mar, Sol, e Areia macia.
1.3. Tempo para estar Comigo...
1.4. Fim de Férias: Retorno Revigorado.
Fotografias... Olhares captados em momentos eternamente meus.
1.1. A Caminho da Praia
... Que sensação! O Vento a bater na cara, as Cigarras a cantar sob o calor escaldante das terras alentejanas, a estrada seca e deserta. Eu e a bicicleta.
Vamos lá a ver se estou em forma. São 3 Km's, com subidas íngremes a partir de metade do percurso! Uiiii. Isto vai doer... ;)
- Aqui vou eu a abriiiiiiiiiiiiiiir!! - grito às Cigarras cantadeiras, que devem ter-se assustado com o movimento pouco habitual naquela zona.
Pedalei, pedalei, pedalei, e até estava tudo a correr bem. Até que cheguei à zona das subidas...
- Ok, hora de parar e recuperar o fôlego!... Ufff... - digo, em tom ofegante, mas muito divertido.
Sinto as gotas de água a escorrer vertiginosamente pelas costas, como um carreiro de formigas. E fazem muuuuita comichão, também!
A cara, também quente e gotejante, só conseguia direccionar os olhos derreados para a garrafa de água fresca que carregava comigo na mochila. Rindo de mim, continuo o monólogo:
- Estas subidas... uf, uf, uf, ... dão cabo de mim... uf, uf, ... Já não estava... uf, uf, uf, habituada a isto! Uf, uf, ... Vidinha de Cidade, é o que dá!
Alcancei a garrafa de água de litro e meio. É fantástico poder beber água fresca, quando se tem sede. Na maioria das vezes, nem nos lembramos que este simples gesto para nós, cidadãos comuns, é algo de inalcançável para muita gente, no nosso Planeta...
Saciei a minha secura. Agora, já só restava metade da água... Sou pior que um Camelo! E ainda por cima, sou Carneiro e muito teimosa! Irra! :D
Respiro fundo e sigo o meu caminho. A pé. Com a bicicleta ao lado, em jeito de passeio.
Verifico que, pelo caminho, há excelentes motivos para fotografar. Sombras, árvores, amoras silvestres à beira da estrada muito madurinhas, flores... e até uvas, ainda na fase de gestação.
Tenho de fazer o percurso a pé! Vale a pena fotografar!
Começo a avistar a recta final da subida, já muito perto da praia. Olho para trás, para todo o caminho já percorrido. Vislumbro a pequena Vila de Odeceixe ao longe. Daqui, ainda parece mais pequenina e encantadora. Uma amálgama de casas caiadas de branco, naturalmente bem alinhadas, umas ao pé das outras, originam uma imagem semelhante a uma Villa do Sul de Itália ou de uma Ilha Grega.
Respiro fundo novamente. Desta vez, um respirar mais profundo, mais lento. Relaxante. Fecho os olhos. Ouço o silêncio do Monte que se funde no assobio do Vento. Sinto o calor do Sol e a sua luminosidade intensa. Parece que o Tempo parou...
Depois de muitas gotas de suor, cheguei ao topo do velho monte, onde a Praia de Odeceixe é a paisagem que se avista no imediato.
- Finalmente... - penso para comigo.
Durante alguns segundos não me mexi, sequer. Estava ainda embuída pela chegada à Praia que todos os Verões frequento, mas que é sempre diferente. Fiquei ali, admirando a beleza das cores verde-turquesa e verde escuro do Mar. O tempo passado na contemplação do que se Ama, deseja-se infinito e amarra-nos ao momento...
Uma voz com pronúncia local "despertou-me" da minha pequena "viagem".
- Oh Menina, Menina?! Pode deixar aqui. É da casa! Aqui, ninguém lha rouba.
Ainda atordoada, percebi que era mesmo comigo com quem a Sra. falava. Saída de uma casa branca, logo ao ínicio da íngreme descida até à praia onde repousa a pacata Vila de Pescadores, vejo uma Sra. com um ar muito simpático caminhar até mim.
- A bicicleta. Pode deixar aqui, Menina.
Continuava ela, baixando o tom de voz, à medida que se ia aproximando de mim.
Agradeci à Sra. prontamente, retribuindo a sua simpatia pura e preocupação acerca do meu "suposto" problema em escolher um sítio seguro para deixar a bicicleta. Mal ela sabe, que, naquele momento, eu olhava e sentia tudo, menos isso. ;)
Depois de trocar dois dedos de conversa com a Dona Amélia - assim se chamava a Sra. - fiquei a saber que o tempo tem estado uma maravilha, muito calor, e que a praia não tem muita gente. Na sua maioria, ainda são só os "Estrangeiros que aqui andam".
Sorri, agradeci mais uma vez à Sra. a sua gentileza, enquanto prendia a bicicleta ao porta da casa com o cadeado. Já na despedida, a D. Amélia pergunta-me se trabalho na Televisão, pois a minha cara era-lhe muito familiar!
- A Menina não faz novelas na Televisão? - perguntava a D. Amélia, quase convicta que a minha resposta apenas iria confirmar a sua forte suspeita! Estive quase para lhe dizer que, novelas, fazia e viva muitas, mas não na Televisão. ;D Mas achei que iria deixar a D. Amélia confusa.
Parti para a Praia e parti o coração da D. Amélia, ao decepcioná-la quando lhe disse que as suas suspeitas eram de todo infundadas. Afinal de contas, deve ter perdido uma notícia que julgava fantástica para contar às vizinhas, da parte da tarde. :) Que novela esta! :D
Desci pela Vila fora, e segui o meu Destino: a minha Praia de Odeceixe. Desta sim, sou fan! ;)
1. Odeceixe, a Pequena Vila do Swd. Alentejano: Acordar e "Pequeno"-Almoçar...
1.2. Finalmente... Mar, Sol, e Areia macia.
1.3. Tempo para estar Comigo...
1.4. Fim de Férias: Retorno Revigorado.
Fotografias... Olhares captados em momentos eternamente meus.